O professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Carlos Reis, critica a corrente que secundariza a formação na área das letras face aos cursos de natureza científica.
As ciências e as técnicas «são fundamentais», assinala, «como agora se está a ver no caso da pandemia». Mas há um risco: «Se não agregarmos a isso uma reflexão ética, social e cultural, arriscamo-nos a transformar as pessoas que dominam a técnica em técnicos desencantados e capazes de desencantar os outros».
Galardoado em 2019 com o Prémio Eduardo Lourenço, instituído pelo Centro de Estudos Ibéricos, o académico regressa com frequência à Guarda, tendo estado recentemente na Escola Profissional a dar uma aula aberta sobre a obra de Eça de Queirós.
O modelo pedagógico desta escola é, aliás, elogiado, por agregar, ao programa do ensino profissional, as matérias do ensino secundário, numa lógica de preparação para o acesso ao ensino superior.
Trata-se de «um casamento muito harmonioso entre a formação profissional, esse tipo de ‘saber fazer’, e a capacidade de, em paralelo e combinado, desenvolver uma outra reflexão, que envolve a cultura e o conhecimento da língua e da literatura, que só enriquece a formação da pessoa», reconhece Carlos Reis.
«Quem não domina a língua, quer não domina a escrita, quem não domina a leitura, quem não percebe o que os outros dizem, quem não é capaz de dizem aquilo que sabe e aquilo que sente, está numa situação de défice», conclui.