À boleia do comboio, a Benespera quer colocar-se no centro do mundo pós-pandemia

Pela segunda vez, em meio ano, a população da Benespera encheu o comboio da Beira Baixa. Já tinha acontecido a 2 de Maio, o primeiro dia da ligação Guarda-Covilhã, doze anos depois de uma interrupção para obras que quase se tornou encerramento definitivo. E no penúltimo fim-de-semana de Outubro os passageiros voltaram a embarcar, em muito maior número, no agora requalificado apeadeiro, que já foi estação (tecnicamente a diferença está no facto de dispor apenas de uma linha). Os benesperenses fizeram uso do ditado “quem não é visto, não é lembrado”, sobretudo porque, pouco antes da reabertura da linha, estiveram na iminência de não verem parar os comboios, apesar de todo o investimento realizado – o mapa de circulação inicialmente divulgado excluía a Benespera, tal como o Barracão/Sabugal.

Com eleições legislativas marcadas, e seja qual for a política futura em relação ao transporte ferroviário, o certo a aldeia no fim do Vale da Teixeira não quer ficar, apenas, a ver passar os comboios. Já muita coisa mudou, na Benespera, nestes poucos meses em que o sinal sonoro da passagem de nível e do aviso de chegada de composição de passageiros se ouve, pelo menos doze vezes por dia, seis em cada sentido, com paragens tanto dos regionais como dos intercidades.

Um dos culpados desta proximidade da população em relação aos comboios é um contabilista de 27 anos, que desde o início da pandemia tem estado grande parte do tempo em teletrabalho a partir da Benespera.

Filipe Santos foi o dinamizador das viagens de Maio e de Outubro e embarcou também no comboio inaugural, onde fez questão de chegar à fala com os ministros Pedro Nuno Santos e Ana Abrunhosa, e no regional que levou António Costa da Guarda à Covilhã, em campanha eleitoral para as autárquicas. Na conversa com o primeiro-ministro reforçou o que dissera aos titulares das Infraestruturas e da Coesão Territorial: a aposta na ferrovia é essencial para o desenvolvimento do concelho da Guarda, em especial de aldeias como a Benespera.

O jovem militante das causas locais diz que este é o momento certo para chamar de volta os que partiram, dar condições para a fixação jovens casais e atrair nómadas digitais. A reabertura da Linha da Beira Baixa alargou os horizontes. Está está agora no lado dos poderes (central e autárquico) a criação de mecanismos que coloquem a região na moda.