Durante décadas, o modelo do Estado-Providência garantiu pleno emprego, proteção social e um percurso profissional estável para a maioria dos cidadãos nas sociedades ocidentais. Esse cenário, no entanto, começou a desmoronar a partir da década de 1970. A internacionalização da economia, o envelhecimento populacional e as profundas transformações na estrutura familiar alteraram radicalmente o funcionamento do mercado de trabalho. Hoje, os jovens enfrentam um contexto profundamente instável, marcado pela precariedade e pela imprevisibilidade.
As trajetórias de inserção profissional, antes lineares e previsíveis, tornaram-se fragmentadas e incertas. Antigamente, a transição da escola para o mundo laboral ocorria de forma relativamente rápida e estável: muitos jovens conseguiam um primeiro emprego e permaneciam na mesma empresa até à reforma. Hoje, esse percurso parece cada vez mais uma exceção. Como descreveu o sociólogo José Machado Pais, vivemos a era das “trajetórias yo-yô”, em que os jovens oscilam entre formações, estágios, contratos temporários e períodos de desemprego. Esta nova realidade é agravada por fenómenos como o trabalho informal, os falsos recibos verdes ou os contratos sem vínculo.
Dados recentes confirmam essa instabilidade. No primeiro trimestre de 2025, a taxa de desemprego jovem em Portugal atingiu 21,2%, mais do triplo da taxa geral, que foi de 6,6%. Apesar de uma ligeira melhoria em abril (19,7%, segundo o Eurostat), os números permanecem alarmantes. Este desemprego prolongado e estas trajetórias instáveis afetam não apenas a condição económica dos jovens, mas também o seu bem-estar psicológico, o adiamento de projetos de vida e a sua confiança no futuro.
A resposta política tem sido tímida. O IRS Jovem, que começou a ser aplicado aos rendimentos de 2022, evoluiu para um regime fiscal especial para os jovens entre os 18 e os 35 anos, com isenção gradual de impostos durante 10 anos para rendimentos até 28 mil euros anuais. Embora esta medida possa aliviar a carga fiscal e tornar o país mais atrativo para reter talento, é insuficiente se não vier acompanhada de políticas estruturais que combatam a precariedade e promovam o acesso a empregos estáveis e dignos.
Os estágios profissionais e programas de formação têm mostrado algum impacto positivo. Segundo a OCDE, estas iniciativas aumentam significativamente as possibilidades de inserção no mercado de trabalho e os rendimentos dos jovens, pelo menos no curto prazo. Ainda assim, é fundamental garantir que estes programas não perpetuem a rotatividade nem sirvam como forma encapotada de emprego barato.
Mais do que nunca, é urgente adotar políticas que reconheçam a complexidade das trajetórias juvenis. Combater a emigração jovem exige mais do que incentivos fiscais: é preciso criar um ecossistema de oportunidades que inclua habitação acessível, progressão profissional, estabilidade contratual e valorização das qualificações. A precariedade não é uma escolha, é uma armadilha social que prende até os mais bem preparados. E, como afirmou Serge Paugam, já se vive uma “nova pobreza” que atinge até quem nunca enfrentou carências nas gerações anteriores.
Por fim, é fundamental envolver os próprios jovens na construção de soluções. A participação cívica e o diálogo intergeracional são cruciais para pensar políticas que respondam às suas reais necessidades e ambições.
Portugal tem hoje uma geração bem formada, resiliente e com potencial. Falta-lhe apenas o essencial: oportunidades justas e sustentáveis. Não basta formar talentos, é preciso segurá-los. E isso exige coragem política, investimento público e uma verdadeira reconfiguração das prioridades sociais.