Educar para o envelhecimento: construir o futuro estimando quem nos fez chegar ao presente

A visão relativamente ao envelhecimento tem vindo a sofrer alterações ao longo do tempo, quer em termos de fisiologia, quer ao nível das relações sociais e culturais. No século XXI, o envelhecimento tornou-se o fenómeno mais relevante e o que mais questões e desafios colocam.

Atualmente verifica-se uma situação complexa, onde os atuais problemas da sociedade, não residem no envelhecimento, nem no aumento da esperança de vida, mas sim no facto de a sociedade não se estar a adaptar ao “inverno demográfico”.

Não podemos olhar para este fenómeno, como uma lamentação, uma vez que compete a cada um, arranjar estratégias de intervenção na área do envelhecimento.

Por isso mesmo, são colocados novos desafios à população, no sentido do envelhecimento ser compreendido, não como declínio físico, mas sim como uma conquista civilizacional, onde são necessárias sinergias, para que este seja bem-sucedido e com qualidade. Acrescentando vida aos anos e não simplesmente anos à vida.

Estamos, portanto, cada vez mais confrontados com a necessidade de se intervir na área do envelhecimento. Mas, mais que intervir, é urgente a mudança de visão em relação aos cuidados prestados. E esta alteração de mentalidades deve começar, precisamente, pelos mais novos. Pelo neto que se preocupa com a avó, pela neta que aprende com o avô. Isto é intergeracionalidade!

Ao mesmo tempo, precisamos de cativar os mais novos para o envelhecimento e para o cuidado humanizado ao idoso, para não corrermos o risco de num futuro bem próximo enfrentarmos um grave problema: não haver ninguém com vontade de trabalhar nesta área. Porquê? Porque tem subsistido, nos últimos anos, uma ideia intrínseca de que trabalhar com idosos em instituições é mau ou “é porque não há mais nada”. Ora, haverá trabalho mais digno de cuidar do outro?

Esta atitude gera um afastamento da sociedade em relação às instituições sociais e ao contacto com idosos.

Ao mesmo tempo, o que quase sempre passa para o exterior são exemplos negativos, de maus-tratos e abusos, que evidentemente nos preocupam e nos colocam em alerta (e ainda bem). Mas não poderemos fazer, a partir de casos reprováveis, mas isolados, uma generalização. Há excelentes instituições sociais, com boas práticas e pessoas que realmente vestem a camisola ou, como costumo dizer, que “cuidam dos vossos, como se fossem deles”.   

E todos nós, como tem reiterado o Presidente da Associação Nacional de Gerontologia Social, Ricardo Pocinho, temos de estar todos muito gratos aos trabalhadores das organizações sociais.

Seria por isso importante introduzir nas escolas a Educação Gerontológica, com matérias centradas na pessoa idosa e na humanização dos seus cuidados, contribuindo para eliminar estigmas e rótulos.

Só conseguiremos construir o futuro se tivermos a capacidade de estimar quem nos fez chegar ao presente!

É certo que existe, cada vez mais, a preocupação de se criarem equipamentos sociais para dar resposta às diferentes necessidades dos indivíduos. Mas devemos questionar se a intervenção na área do envelhecimento é a mais adequada face às necessidades. É necessário inovar, através do conhecimento e da dedicação.

A melhoria da satisfação com a vida durante a velhice passa por deixar de pensar no que faz falta e dar valor ao que se tem. Ao envelhecermos, o desenvolvimento passa por aceitarmos o que ainda é possível fazer e pela manutenção de expetativa: esperam-nos coisas, esperam-nos pessoas, esperam-nos relações. Prolonga-se a vida, quando se está aberto à novidade, quando reparamos nas pequenas maravilhas que acontecem, quando estamos atentos às outras pessoas e aos acontecimentos, quando se valorizam coisas simples que são frequentemente as mais importantes: poder andar, poder ler, poder ouvir música, poder sair de casa, ter para onde se ir, ter projetos, ter amigos, ter quem goste de nós, sermos amados.

É um facto: nisto ou naquilo, o ser humano vai ficando menos capaz à medida que envelhece, mas tal nunca impedirá esse mesmo ser humano de achar cada vez mais interessante, cada vez mais bonito, tudo o que envolve.