A aposta sólida na cultura é o único caminho para termos uma cidade com cidadãos críticos, informados e impermeáveis às mentiras.
Se assistirmos a uma peça de teatro, se lermos um grande livro, se ouvirmos uma música de intervenção ou, simplesmente, um verso que nos empurre contra nós, contra a nossa condição, estaremos sempre acordados.
A cultura dá-nos a oportunidade de criar uma comunidade feita do rasgo e da criatividade de que são feitos os nossos maiores sonhos. Só uma comunidade que pensa e que participa pode ambicionar e reivindicar ativamente algo maior.
Pois eu convido-vos, aqui e agora, a pensar e a ambicionar.
Pensar numa governação que não desperdice os equipamentos culturais que a todos pertencem. Pensar numa cidade onde possamos educar-nos todos os dias e que incentive os seus jovens a ler, a debater e a refletir diariamente. Uma cidade que os ajude a pensar e que construa laboriosamente, com eles, o seu próprio futuro, que é a massa crítica.
Alguém acredita que uma terra ou lugar têm futuro se não houver cidadãos capazes de apreender a realidade e refletir sobre a sua comunidade individualmente ou em grupo?
Onde é a ágora na Guarda? Onde é o debate? Onde é a inquietação?
Afinal, o que nos move? Qual é, hoje, o estado de espírito dos guardenses? Estaremos satisfeitos com a cidade que temos? É isto que queremos da política?
E aqui reside o meu maior medo. O medo do irreparável.
Eu tenho medo que os guardenses já estejam, não apenas resignados, mas satisfeitos. Que acreditem já que não há outro modelo de cidade que não este. Um modelo encenado – de ausência de propósito maior – que lesa as nossas legítimas expectativas nas mais variadas dimensões da vida.
Um modelo que não olha a meios para atingir o seu único fim, que é a vitória numas eleições, negociando, com as mais diversas pessoas e entidades, o maior número de votos possível.
Ganhar eleições não é, nunca foi e nunca será a razão de ser duma autarquia. As pessoas, sim, são a única razão de estarmos aqui. Respeitem-nas.