A obra “Guarda. Das Origens à Atualidade” é um conjunto de quatro volumes sobre a História da Guarda. Trata-se de uma edição da Câmara Municipal da Guarda e do Instituto Politécnico da Guarda, encomendada ao Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade da Universidade do Porto.
Lançada no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, foi apresentada como «uma importante contribuição para a documentação histórica da cidade e do concelho» que «abrange os principais temas desde das estruturas político-administrativas às religiosas, dos comportamentos demográficos à economia, da organização social ao urbanismo e arquitetura».
São no total 1.852 páginas, cuja escrita teve a coordenação de Fernando de Sousa (diretor do CEPESE), com a colaboração de 36 autores, muitos deles locais. Os promotores asseguram que se trata de uma obra «sintética, mas cientificamente rigorosa».
Porém, não é assim. Várias entidades manifestaram já críticas e protestos por erros, omissões e imprecisões em muitas matérias, especialmente as relacionadas com temas da História Contemporânea.
Uma delas foi a Escola Profissional da Guarda. Fundada em 2006 e com lugar de destaque nos rankings nacionais, não merece uma única referência. O diretor, João Raimundo, deu conhecimento da situação à Câmara: «tratando-se de uma obra com pretensões a abordar a História da Guarda até aos nossos dias, não tenho como qualificar o facto de a criação (em 2006), o percurso, o crescimento, as distinções nacionais e a relevância desta Escola enquanto motor socioeducativo da cidade, do concelho e de região não serem merecedoras de uma linha, nem no capítulo dedicado ao ensino não superior [páginas 1231 a 1262] na Guarda nem na cronologia que encerra a obra».
Mas a maior surpresa foi ver-se numa fotografia, num ato público enquanto presidente do Instituto Politécnico da Guarda, no início da década de 90, mas cuja legenda o identifica como «Avelino Passos Morgado». João Raimundo protestou por escrito: «Os autores parecem querer evidenciar um zelo censório em relação à minha passagem pela presidência do Instituto Politécnico da Guarda (de 1985 a 1994). Mas, queiram ou não, tratou-se do período de lançamento, concretização, afirmação e expansão do maior investimento público realizado na cidade da Guarda em Democracia».
O município encaminhou a carta ao coordenador da obra, a quem exigiu responsabilidades. Fernando de Sousa «teve a gentileza de me telefonar e pedir desculpas, de um modo muito correto e cordato, assumindo pessoalmente as culpas pela falta de rigor da equipa local que ao longo de mais de dois anos disse ter sido responsável pela verificação e correção dos conteúdos», ressalva João Raimundo. E propôs uma solução: «disponibilizou-se para publicar uma adenda e corrigenda à obra, na qual incluiria um texto que nos solicitava que escrevêssemos sobre a Escola Profissional». O diretor do CEPESE sugeria que fosse ainda escrito um texto sobre a Fundação João Bento Raimundo, para o mesmo fim.
«Foi um ato de correção e boa vontade», reconhece, «mas entendemos que esta não era a forma de resolver a situação». Na prática, as duas instituições escreveriam o que entendessem, sem qualquer pesquisa, investigação ou escrutínio por parte dos autores do livro. «Isto é tudo menos rigor científico». Em vez de uma obra histórica, seria uma publicação promocional.
O diretor da Escola Profissional fica à espera «de uma futura edição revista da coletânea da História da Guarda e não uma mera adenda e corrigenda da edição que já está apresentada, distribuída e promovida», para a qual «então sim, estaremos ao dispor para qualquer outro contributo que entendam necessário».






Outras omissões flagrantes na cronologia das últimas décadas: não há referências às celebrações nacionais na Guarda do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em 1977 (onde Jorge de Sena proferiu um discurso marcante) e em 2014; nem às Presidências Abertas de Mário Soares em 1988 e de Jorge Sampaio em 2002. E o combate a uma pandemia também não merece uma linha.
A história sobre a indústria na Guarda a partir dos anos 50 é uma vergonha, especialmente sobre a Renault e a evolução que se seguiu.
Recomendo a consulta, pois a memória ainda está fresca para muita gente.
Dá vontade de arrancar aquelas páginas, porque nada aconteceu de relevante e importante.