Quando fazem opções políticas, os nossos autarcas limitam-se a afetar o nosso dinheiro ao suprimento das necessidades que entendem por prioritárias.
Quer queiramos, quer não, não há nada que por eles possa ser feito que não decorra de uma legitimação inicial nas urnas; de uma maioria de votos.
As maiorias podem ser relativas ou absolutas e, em democracia, todas as maiorias podem ser saudáveis, se o móbil dos governantes for verdadeiramente a causa pública, o serviço e a procura de soluções eficazes para os nossos problemas.
E quais são os nossos problemas? Tantos e tão diversos, que seria ridículo começar, aqui e agora, de enfiada, a enumerá-los exaustivamente. Não haveria mais texto e ofender-se-ia até o leitor menos bairrista.
Para arrumar a questão, escolherei três grandes dramas que impedem a Guarda de ser uma cidade – no verdadeiro sentido do termo -, porque uma cidade é feita de homens e os homens são seres racionais, feitos da sua consciência:
O primeiro é o alheamento. Os cidadãos não têm perceção do que se passa nos órgãos municipais. Das competências, do funcionamento, da missão, dos objetivos, das motivações, das propostas, dos erros, dos gastos, dos danos.
O segundo é a ausência de espírito crítico. Os guardenses preferem encolher os ombros a ter uma visão crítica, a não ser que sejam diretamente afetados pelas decisões da autarquia. Porquê? Porque não têm a mais pálida ideia do que a Câmara faz, diariamente, ao dinheiro que tem. Se tivessem, exigiriam uma governação arrojada, responsável e respeitadora do erário público.
O terceiro (e a causa dos dois primeiros) é a falta de transparência do Município. A Câmara da Guarda não está e nunca esteve interessada em abrir as suas portas à sociedade civil, fomentando uma cultura de autorresponsabilização, de escrutínio e de verdade. O chico-espertismo e a jogada política sobrepõem-se sempre à informação verdadeira e rigorosa que deveria ser prestada aos munícipes.
Só assim se explica que, a meio de um dia de trabalho, se cortem algumas vias principais para colocar uma locomotiva numa rotunda que custou, ao todo, um milhão de euros. Diz Saramago que «é preciso sair da ilha para ver a ilha» e eu, que calhei a assistir a tudo isto a partir de outra cidade, quase baixei os braços, pensando que a Guarda já não vai a tempo de o ser.